segunda-feira, 7 de abril de 2008

O paradoxo da loucura.


A coisa mais interessante desse negócio de blog é esse negócio de comentário. Como eu também comecei anônimo, não exigi identificação em comentários da mesma forma. Mas o primeiro comentário do blog não foi anônimo, foi de um sujeito chamado “Teatro loko”, que não acrescentou nada. Apenas perguntou se eu sou louco. E eu ainda dei-me ao trabalho de responder.

Eu perguntei para ele se eu fosse louco, como é que alguém poderia acreditar num atestado de loucura dado pelo próprio louco? E se eu dissesse que não, como saberia que não é mentira? Você percebe o imenso paradoxo que há nisto tudo? Eu não sei se alguém já falou disso antes. Mas devem ter falado, afinal de contas hoje em dia é impossível ser original.

Mas vou chamar isso de “Paradoxo da Loucura”. Você nunca vai saber pelo próprio louco se ele é louco ou não. E o diagnóstico para desordens mentais deve ser mais complexo do que possa talvez parecer para o senhor “Teatro loko”. Ou também para os outros que também disseram algo parecido, como a Dona Lilian (não me deixou irritado por seus erros, é difícil me deixar irritado). Já a dona Beatriz Vernitz me perguntou se estou em crise de contar algo... Talvez esse fosse o meu divâ particular...

Mas falando em loucura, li algo legal sobre isso essa semana. Dizia que pior do que a loucura seria vagar na região intermediária entre a lucidez e a loucura. Não ter o benefício de não entender e amargurar a prisão de ser lúcido.

E li ainda sobre um negócio chamado síndrome do encarceramento, que é um tipo de coma onde o paciente fica acordado e consciente, ouve, entende coisas e pode sentir dor. Mas, como está completamente paralisado e só é capaz de mover os olhos, os médicos podem declarar seu estado como vegetativo.

Aí pensei na imensa metáfora que havia nisto tudo e perguntei-me, será que aquelas pessoas que entram no meu blog e às vezes deixam comentários tão interessantes, conseguiriam entender o que eu quis dizer se eu fizesse uma analogia dos estados de lucidez questionando a simples necessidade de ser lúcido que é a única coisa que faz você ter certeza de que tudo existe?

E como coesão nunca foi uma das características mais marcantes deste blog, lembrei-me de uma entrevista que vi do Raul Seixas no show do Jô Soares, que havia perguntado para ele quais seriam as características principais de um maluco beleza. Raul respondeu que ele era maluco beleza nos anos setenta, mas que, na época da entrevista, ele não falava muito, preferia pensar. Jô Soares entendeu que ele se referia aos problemas que teve ao se expressar nessa época que acabaram acarretando sua expulsão do país, por ser um dos supostos líderes de uma tal de “Sociedade Alternativa”, que entretanto só existia em suas letras.

E fiquei me perguntando se eu queria me esforçar para ser um sujeito normal, na loucura real. Ou se preferia aprender a ser louco, um maluco total. E controlar a minha maluquez, misturada com minha lucidez.

E não disse nada, mesmo tendo falado bastante.

Como fazem os loucos.

Ou talvez tenha dito tudo, mesmo sem parecer ter sentido.

Como já fizeram muitos.

Mas talvez um dia entendam.

Ou não.

2 comentários:

Anônimo disse...

Adoro essa musica do Raul Seixas. Tbm faço as mesmas perguntas sobre maluquez e lucidez, e ainda não entendo, ou entendo. Uma mistura e tanto, boa coisa pra se pensar por horas a fio. Enqto isso vamos continuar a nos questionar, e a te questionar, afinal, até agora não temos mtas coisas concretas e percebidas por aqui.
--{@

Anônimo disse...

Justamente, apenas quem tem atestado clínico me convence, o resto é tudo normal.Loucura ...